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uma longa história

doida e doída

uma longa história

doida e doída

29 de Dezembro, 2022

"é verdade, morro de saudade"

 

No outro dia de manhãzinha estava a trabalhar e ouvi a canção "Melodia da Saudade" do Fernando Daniel a passar na rádio de um qualquer carro. Depois percebi que a canção não era essa, aliás, nada tinha a ver com essa... Não sei o que aconteceu comigo naquele momento.

Acho que toda a gente conhece a canção em questão, e toda a gente se lembra de alguém quando a escuta. Eu lembro-me dos meus avós. É com essa e com a "Memories" dos Maroon 5. São duas canções que evito ao máximo ouvir, bem como a "Heaven" do Bryan Adams, se bem que esta última por outros motivos.

 

Às vezes gosto de imaginar como teria sido a minha vida se os avós não tivessem morrido nem, obviamente antes disso, ficado gravemente doentes, presos à vida por um suspiro, o avô por uma máquina - já agora, por onde anda a alma de alguém cujo corpo só funciona porque um aparelho assim o obriga?


Não perdi os meus avós, que foram os meus pais, no dia em que eles morreram. Perdi-os anos antes, quando ficaram os dois acamados como se já não fossem duas pessoas, duas vidas. Para mim ainda eram os avós. Eu era pequena demais para entender que para eles próprios provavelmente a identidade já se havia perdido. E às vezes o cansaço é tanto e a dor é tão grande que precisamos de parar de ser egoístas (ou pelo contrário, de ser muito egoístas) e desatar o nó.

 

Não chorei quando os avós faleceram. Reprimi tanto e durante tanto tempo as minhas emoções, que hoje choro por coisas simples, como se a torneira depois de aberta nunca tivesse realmente fechado. Pinga muito por aqui.

O avô foi descansar primeiro. A máquina foi desligada. Uma sala branca, local de trabalho de tanta gente apressada que tantas vezes não vê, não sabe, não sente gente como gente. A avó descansou depois, em casa, junto a nós. Um suspiro e após isso... Nada.

Nesse fim de dia em que a avó faleceu, eu ainda criança fui levada às pressas para casa dos pais da tia, que não me eram nem são família. Um casal que me acolheu o corpo, mas não os sentimentos. Fizeram do sofá da sala uma cama para mim, com dois lençóis e uma almofada. Desejaram bom descanso e fecharam a porta, deixando-me sozinha completamente às escuras, somente com o meu telemóvel, o meu mp3 e uns fones de ouvido. Não se deseja bom descanso a quem acaba de perder tudo. Não se deixa às escuras uma criança que se sente desamparada, órfã e assustada. E, novamente, reprimi as emoções. Não queria ser um estorvo. Respondi à mensagem preocupada da mãe, liguei o mp3 e ouvi música até por fim adormecer. Nessa noite tudo o que eu queria era alguém que me emprestasse o colo e me envolvesse com os braços como quem garante que eu não estou sozinha. Não havia. Não houve. Eu estava.

Não lhes guardo rancor. Nem aos pais da tia, nem aos meus avós. Mas durante muito tempo achei que os avós me tinham abandonado. E durante muito tempo quis ir para junto deles - haveria algo, alguém, por quem ficar? Caminhei incontáveis quilómetros descalça sobre achas de fogueira e vidros afiados. Foi muito difícil chegar até aqui. E para quê? A felicidade, embora a tenha como estado de espírito, não é constante. Ela vem e vai, e vem e vai. Nesta minha vida coberta de "açúcar ácido", tenho a ligeira sensação de que nada corre como o expectável. Como se eu fosse constantemente submetida a provas de fogo. E uma pessoa cansa-se, não é verdade? Uma pessoa cansa-se da vida do circo, de ser palhaça e de fazer acrobacias em trapézios invisíveis... Sem público.

 

Se os avós não tivessem ido descansar, possivelmente eu nunca me teria perdido. Mas foi (muito) por eles que me tentei encontrar. E continuo a tentar, com força e vontade. O que mais quero é ser o melhor possível em tudo o que sou... Porque do nada tudo muda e o amanhã só a Deus pertence...

26 de Dezembro, 2022

Hoje preciso mesmo de escrever

Eu sinto muito as coisas. Definitivamente sou mais do sentir do que do pensar, embora adore (e até prefira) as coisas todas planeadas e certinhas. Mas isso agora são outros quinhentos, nada tem a ver com o que preciso de desabafar. Estava a dizer, e bem, que sinto muito as coisas... Acho que é a minha sina. Puta de sina!

Na sexta-feira descobri que a pergunta que fiz na primeira entrada do meu diário tem uma resposta. E essa resposta é um SIM escrito a vermelho, letra verdana, tamanho 36, a negrito. Tipo isto:

SIM

 

Ontem passei o dia fora de casa e nem por um segundo parei de pensar. Quando cheguei despi-me e fui direitinha para a banheira. Chorei no banho... O cúmulo do ridículo. Eu bem digo que me sinto uma adolescente.

Chorei, e hoje também me apetece chorar. Porque esse SIM escrito a vermelho, letra verdana, tamanho 36 e a negrito tem tudo para ser a melhor coisa de sempre, mas também a minha ruína. E eu, que já me conheço a mim e agora que também te conheço a ti, acredito piamente que estou fodida. Tu sabes que estou. Tu sabes, porque sabes de tudo. Porque sabes, e sentes, e vês, e lês. E é também por isso que eu sei que vou sofrer. Por isso, e porque hoje já começou a doer...

23 de Dezembro, 2022

Talvez

Talvez gostes da ideia de alguém gostar de ti. Talvez já não sintas isso há algum tempo e estejas só a aproveitar a cena. Talvez te alimente o ego, ainda que sem maldade ou presunção. Talvez seja apenas engraçado ver, receber. E é, suponho - só posso supor, já que não estou habituada a estar desse lado. Tenho muita dificuldade em acreditar que sou amada ou simplesmente apreciada. É algo no qual quero trabalhar, logicamente não sozinha, mas neste momento não tenho tempo que sobre para isso. Um dia chego lá. Ou não. Na realidade sou muito tapadinha e por norma não entendo as intenções alheias. Tive um "namorado", o Tiago, que conheci no jardim de infância. Depois tornamo-nos colegas de turma do sétimo ao nono ano e aparentemente toda a gente via que ele gostava de mim menos eu. Ya... Não há palavras que descrevam a minha burrice nestas coisas de sentimentos. Não entendi quando ele me convidou para o baile de finalistas... Eramos amigos. Não entendi quando o via olhar para mim nas aulas... Eramos amigos. Não entendi quando ele se declarou a mim - ah, era uma declaração! Achei que era porque... Eramos amigos! Enfim. O que é certo é que ele lá percebeu que eu precisava de algo mais específico. Tipo um cartaz publicitário de autoestrada com uma foto minha e setas a apontar, para eu ter a certeza que era de mim que se tratava. Ou uma folha com todos os meus dados, para não restar dúvida. Ou sei lá, dizer-me nos olhos com todas as letras e em bom português: "Mariana, estou apaixonado por ti". É óbvio que ele optou pela última. E só assim cheguei lá. Por isso não, eu não acho, nem nunca vou achar, que sou correspondida. Muito menos agora, assim. 

 

Talvez o Amor, aquele Amor, não seja para mim. Talvez... Talvez eu não o mereça, sabes? Talvez eu não seja boa o suficiente. Talvez eu de facto seja uma peça antiga em cacos no meio de tantas obras modernas inteiras. E pelo que ia vendo nas redes, é de obras modernas inteiras que tu gostas...

 

Ou talvez eu esteja completamente errada... Gostava tanto. Talvez eu seja somente tonta demais e debutante demais. Talvez as coisas estejam unicamente na minha cabeça, como uma espécie de barreira que não me permite ver além, nem deixar entrar coisas boas, como essas que guardas em ti, por e para mim. Mas não. Não me parece.

 

São tantos os talvez cravados neste texto quanto os que pairam na minha mente quando me apanho a pensar nisso. Ou seja, quase sempre. Mas os talvez não dão para mim. Já sofri tanto, tantas vezes, que quero evitar ao máximo sofrer mais uma. Embora saiba, porque tenho essa noção, que se cair agora o tombo vai ser grande. E algo me diz que não vais estar aí em baixo para me apanhar quando isso acontecer... 

22 de Dezembro, 2022

(D)a janela da cozinha

Antes eu ia todos os dias para a janela da cozinha namorar o pôr-do-sol. Horas mais tarde voltava para namorar a imensidão do céu escuro, as estrelas e, quando possível, a lua. É tão eu!

Não me lembro da última vez que isso aconteceu porque entretanto a vida foi-se dando e os dias são compridos demais, mas... Hoje algo em mim acendeu. Cheguei a casa, abri a janela, debrucei-me sobre o parapeito da mesma e durante largos minutos fiquei ali, só a existir, só a observar a noite enquanto o vento frio me beijava a cara. Foi bom, mas não foi tudo o que eu queria. Não foi tudo o que eu precisava. Foi como vir ao de cima respirar... Suficiente por um tempo, apenas.

 

Escrevo muito sobre isto, e se não escrevo, penso, sinto... Mas tenho de me repetir: quero muito sair à noite. Quero muito ir a algum sítio, de preferência onde as luzes da cidade sejam menos intensas e sobressaia o som da natureza. Quero muito... Quero tanto! Só que ir sozinha implica estar por minha conta, perder horas de transportes públicos e provavelmente não aproveitar nada. E companhia... Bom, não há. Por isso, quando sentir o ar a escapar-me, só me resta usar a bombinha de oxigénio que é a janela da cozinha...

19 de Dezembro, 2022

Decisão de última hora

Levo todos os dias na mochila um pequeno caderno que, na verdade, já foi o meu diário. Comprei-o o ano passado no mês em que desisti da blogosfera. Lá comecei a escrever à mão o que sentia e pensava. Posteriormente arranquei todas as páginas e fingi que nunca o tinha feito - sou especialista nisso.

 

O caderno deixou de ser diário e, um ano depois, passou a ser um cadernito típico de quem começa um novo trabalho: apontamentos básicos sobre coisas que, meses depois, ainda não domino. Vá lá, já sei o horário de cor! 

Entretanto cheguei a casa e pus-me a pensar: sou menina para escrever um diário e para andar com ele para todo o lado... Então por que não o faço?

Fui ao armário, onde sabia que tinha deixado um pequeno caderno preto que a minha mãe me ofereceu, também o ano passado, e já escrevi a primeira entrada. Começa com uma pergunta simples que ocupa linha e meia e me faz perder horas de sono todas as noites. Mas não a vou partilhar aqui. E é sobre isso: há coisas que não quero escrever aqui. Há coisas íntimas, pessoais, que não quero partilhar porque é arriscado demais... E eu não quero arriscar mais do que já arrisquei - para quê, se não dá em nada? Neste caso estou a falar dos meus sentimentos. Tenho muito medo de os expor. Sou envergonhada e além do mais é estúpido; sinto-me muito tonta. Por isso vou escrevê-los para mim, com a minha letra desengonçada e toda a verdade que me é tão característica. Vou exorcizar os meus demónios e confessar os meus pecados em algumas dezenas de folhas e vou levá-las comigo para todo o lado, como se fosse a adolescente que tantas vezes, sobretudo ultimamente, me sinto.

18 de Dezembro, 2022

Nesta noite escura

Um colo que me receba os prantos, os lábios a tremer, as palavras sem conexão e as lágrimas que de vez em quando insistem em descer. Um par de mãos que me afague o cabelo, fazendo-me acreditar que é a seda mais delicada e rara. Que me tape as orelhas para não ouvir mais disparos como se eu fosse criança pequena assustada com a trovoada. Um par de olhos que me veja nua, ainda que vestida da cabeça aos pés com várias camadas. Um abraço que me conforte nas trincheiras. Alguém que me ajude a despir a armadura e a descarregar as armas com a garantia de que haja o que houver não estou mais sozinha nesta guerra.

16 de Dezembro, 2022

Turning page

Não está visível aos olhos de toda a gente, até porque em mim há bastantes espinhos, mas eu sou muito romântica. Amo o amor e tudo o que o amor é, nas mais pequenas e insignificantes coisas. Aliás, para mim não há coisas pequenas e insignificantes... Tudo é festa com direito a confetis e gritinhos histéricos internos, mas também tudo pode ser murro no estômago...

 

Como romântica que sou, e tendo em conta a idade que tenho, é óbvio que sou apaixonada pela saga Crepúsculo. Um romance entre um vampiro e uma humana, daqueles que podem dar muita merda? Um homem todo apaixonado (é a coisa mais linda de se ver)? E vá, o Taylor Lautner sem t-shirt? Eu não gostar seria até ofensivo.

Mas, o que quase ninguém sabe, é que curiosamente a minha canção favorita passa na saga Crepúsculo. A minha canção favorita mesmo. Há algo de muito bonito na melodia... E a letra é uma declaração brilhante e poética que me faz revirar os olhos para fingir que não gostei, embora secretamente tenha adorado (é uma reação espontânea minha na qual estou a trabalhar).

Boa. Agora apetece-me ver os filmes novamente... Certamente a chorar baba e ranho com um pote de gelado no colo. Acho que é um ótimo plano para quem está menstruada, adormeceu lavada em lágrimas e num só dia comeu chocolate suficiente para satisfazer uma semana - ou por outras palavras: está toda fodida.

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